O Mercador de Solenidades

Um cara aluga roupas na calçada para as pessoas que vão até o Fórum da cidade e não estão “adequadamente vestidas”. Que isso! Seguinte, quando se poderia imaginar que, na casa da justiça, as pessoas fossem tão injustiçadas pelas roupas humildes que possuem, sendo proibidas de seguirem o decorrer de suas causas, no local destinado a elas. Isso é absurdo! Bom, para o novo empreendedor do bairro, não : o alugador de roupas “solenes”.

Certa vez, na Justiça do Trabalho, imagine, um trabalhador humilde foi negado de seu processo ser julgado na data prevista , porque um juiz, aliás, que tamanho “cara-de-pau” , não o quis fazer, por ele estar de chinelos. Agora, alguém lhe perguntou se ele teria em casa sapatos fechados? Com que audácia, um juiz que ganha mais de 10 mil reais por mês, na Justiça do Trabalho, tem o “direito” de não atender aquele trabalhador por causa dos seus pés desnudos.

Nos EUA, até aquilo que sei, a Justiça não esbanja tanto glamour , como a daqui. Basta reparar a magnitude dos prédios do Ministério Público Estadual do RS , que é novo, e a sede do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Bom, o último eu conheço por dentro, quase estagiei lá, e , por sinal, é lindo. Então, por ter paredes e pisos de mármore, altas torres (não que o espaço não seja necessário, visto que o é), mas porque terem uma mentalidade tão mesquinha com os pobres infelizes que mal tem o que comer em casa e lhes negarem ou barrarem o acesso à justiça, por causa de suas vestimentas simples.

Então, a Justiça serve para auxílio dos fracos e oprimidos, ou para a barganha dos ricos e poderosos? Aliás, as causas de direito privado estão ganhando mais espaço do que as de direito comum, digo no sentido de causas sociais, até, teria que analisar melhor essa afirmação de teoria.Agora, o quê está acontecendo é o seguinte : mais as pessoas estão se guiando pelo direito da rua, ou seja, elas próprias tentarem resolver os conflitos, sem depender de um órgão maior de jurisprudência. Assim, quando dependem da justiça de fato, ainda são oprimidas. Já basta a sociedade oprimi-las, o que lhes resta mais , a não ser alugar roupas, pelo mercador de vestimentas solenes, para entrar na casa da justiça?

Viamão, 15 de julho de 2008.
Tamirez Paim

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