APAE - Pesquisa Antropológica




A Interação das Mães com a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – a APAE de Viamão.





Apresento aqui uma síntese da minha "primeira" pesquisa antropológia realizada de abril à junho de 2008, na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Viamão. Esse trabalho foi requisito da cadeira de Introdução ao Pensamento Antropológico, com o Prof. Ari Oro, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS, do curso de Ciências Sociais.

O interesse pela minha pesquisa surgiu na curiosidade em conhecer melhor os atores sociais que participam da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais - a APAE de Viamão. Desde criança, eu divido a parada de ônibus com os alunos e com os pais que freqüentam a escola . Isso sempre me chamou a atenção e a curiosidade em entender melhor a vida dessas pessoas que ali diariamente encontravam-se .

O meu primeiro contanto foi muito antes de iniciar a pesquisa, quando eu passava pela frente da escola ou ficava na parada com eles há alguns anos atrás. Muitas vezes, eu conversava com alguns pais, outras eu cumprimentava alguns dos alunos que receptivamente cumprimentavam-me quando eu passava. Desde sempre, isso me instigou a um interesse imediato em um dia conhecer melhor a vida e a rotina deles dentro da APAE.

Eu sabia que a minha pesquisa focaria de algum modo os pais, tanto é que no início senti dificuldade em definir com exatidão o tema e acabei desviando-me com o foco nos alunos.
Por isso, até me inteirar com exatidão da situação interna institucional da escola, participei de umas aulas com a Professora Cristina de Educação Artística, a sugestão da Diretora da APAE. Foi ,então, que pude compenetrar na realidade da escola, quando , conversando com a professora Cristina, conhecendo a escola por dentro e sua administração, pude entender a essência e a importância dos pais na funcionalidade da APAE.

A partir disso, pude focar minha pesquisa com exatidão na relação dos pais com a APAE. Nas minhas observações, pude perceber que algumas mães participavam ativamente dentro da escola, outras não. Então , busquei respostas as minhas indagações.Com isso, apresento essa síntese da minha monografia baseada nas idéias à respeito da participação ativa de muitas mães dentro da APAE.
A minha pesquisa antropológica visou descobrir quais os fatores que justificam a presença maciça de mães dentro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Viamão. Tendo em vista a problemática que é lidar com o assunto, em virtude dos diferentes tipos de deficiências presentes dentro da APAE , que é uma escola de Ensino Especial, saí muito satisfeita com o resultado.


A problemática desta monografia consistiu em questionar os reais requisitos que motivam as mães a privarem-se de trabalhar, de realizar outras atividades fora do âmbito do seu filho, e contribuírem com sua predisposição e boa vontade a auxiliar a APAE na manutenção dos seus alunos no período letivo .

Durante o processo de pesquisa, eu questionei as seguintes perguntas indagando o objeto de estudo :
a)Porque a Senhora permanece na Escola enquanto seu filho tem aula?
b) Porque a Senhora acompanha o seu filho na Escola?
b.a) medo de deixá-lo soZinho;
b.b) por n ter nada o que faZer além disso;
b.c) porque a senhora sente-se na obrigação de auxiliá-lo;
b.d) a APAE requer;
b.e) por prazer;
b.f) por questões financeiras envolvendo a passagem;
b.g) outro motivo, qual?
c)Participa de alguma projeto dentro da APAE destinado as mães?
d) Quando a Senhora não pode ficar na Escola ou trazer seu filho , sente algum tipo de remorso?

Essas perguntas foram feitas a cada mãe e as respostas surpreenderam as minhas expectativas. Muito longe de se um problema financeiro, como eu havia suposto ser um dos fatores que justificavam a presença maciça delas na escola, as mães demonstraram que, muito além disso, elas se privam de trabalhar, justamente , para ficarem mais próximas dos seus filhos e participarem junto do desenvolvimento deles.
Eu , também, havia suposto que seria por medo delas , as mães, de deixá-los sozinhos ( os filhos) na escola. Esse medo se justificaria na questão maternal de proteção – o instinto materno. Como veremos mais adiante, isso não se confirmou com o real sentido de medo e, sim , por um verdadeiro sentimento de companheirismo delas com seus filhos.

Nas primeiras visitas, eu havia suposto que existia um certo individualismo entre as mães, em relação a cuidar e auxiliar somente ao seu próprio filho. Porém, na convivência , observei também uma enorme rede de cooperação entre todas . A sala de espera, destinada aos pais, não serve apenas para aguardar. Muitas mães ali vendem produtos para outras mães e pais..

Primeiramente, eu havia julgado um lado negativo de estarem ali ociosamente, porém , com o decorrer da pesquisa, descobri que ali existe muito mais que um simples comprometimento com seus filhos , em questão de buscar por buscar, mas sim um verdadeiro sentimento de gosto por estar participando ativamente do desenvolvimento dos seus filhos.
A minha experiência pessoal do campo foi muito rica para mim. Como pessoa, posso afirmar que acrescentei coisas boas na minha vida, tais como a maneira de ver as realidades diferentes. Dentro da APAE, vi crianças, jovens, adultos com diferentes realidades mentais, físicas e sociológicas, porém foi difícil encontrar algum tipo de amargura, ódio ou maldade, como ,muitas vezes, encontramos em pessoas que possuem todas as faculdades do corpo sãs.
Acredito que a forma como participei da minha pesquisa foi válida . Obtive erros em não ser mais aberta nas minhas indagações. Mesmo no desvio de rota , que mencionei anteriormente, foi muito importante para pensar que , mesmo quando temos tudo para sermos pessoas felizes, encontramos defeitos em coisas tolas, tristezas em coisas banais.

Na APAE, encontrei pessoas que tinham garra, tinham coragem em assumir sua dificuldade perante a vida, seja como profissão, seja como pai, seja como aluno. Por isso, a dinâmica com que aqueles pais enfrentam juntos a dificuldade de apoiar e de criar um filho excepcional é muito bela.

Por isso, o sentimento de conforto, tanto pelas mães por estarem ali, quanto da folga aos professores e aos funcionários nos intervalos e , também, a presença carinhosa dos pais, tudo isso, implica numa grande família ,que se une num único fim: promover o bem–estar daqueles alunos tão carentes de cuidados especiais.
Tamirez PAim

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