Navegar é fácil, difícil é viver


"Navegar é preciso; viver não é preciso." Fernando Pessoa

É fácil viver a vida como um desses livros de FAÇA VOCÊ MESMO , estilo passo a passo americano, ou auto-ajuda mesquinha que mais lucra em cima das frustrações das pessoas do que realmente ajuda, pois mais fácil é viver bem “medicadinha”, ou mais chique ainda é sofrer de Síndrome do Pânico, uma doença pós-moderna!

É fácil viver de conselhos da mãe, dos vizinhos, pois difícil mesmo foi ter levado cabeçada no trem da vida. Doeu? Dói? Tem que doer. Abaixo a essas teorias da Inexistência do Não, sofrimento também é aprender e aprender bem. Agora, bancar o burro, meu amigo, não é este o mérito que proponho. Falo do sofrimento, esse que enriquece nossos neurônios das mais pérfidas intenções alheias ou das nossas próprias fraquezas. Esse sim vale ouro.

Posso desfrutar dos instrumentos da navegação – céu, lua, estrelas, luneta, bússola, norte, sul, leste e oeste – condições do mar? Perfeitas! Prosseguir, capitão! Velas? Postas em suas posições. Condições do vento? Velocidade perfeita até daqui a 50 milhas, mas logo se aproxima um furacão. E agora, Capitão? Volver à direta e rumo a lugar nenhum. Navegar assim é fácil, podemos planejar os rumos, temos muitos meios.

Agora viver que é lá mais quinhentos anos... e nunca se saberá o destino, podemos sugerir, mas vai saber, contamos com as regularidades, aquilo que é comum a todos os dias e a todos os lugares que freqüentamos, aliás estamos vivos ainda. Uma escapadinha aqui, uma escorregadinha ali, mas tudo bem, eis-me aqui Senhor e graças a Deus cheguei Vivinho da Silva. Saí magoado na rua, por causa de um outro anelídeo, e se depara com alguém espetacularmente maravilhoso, casa e tem 15 filhos.

A verdade é que não sabemos de nada da vida, pois ela está sempre a acontecer. Hoje é isso, amanhã é aquilo. O tempo passa e no que me cabe falar sobre as paixões... é que se não acontecer de 3 a 6 meses, “adiós”, troca a fita, diz a neurociência, e segue o baile que está cheia de moça bonita o salão!

A questão é que não sabemos como será a vida, pois mais fácil é possuir os instrumentos para vivê-la, eis que esses não possuímos, podemos até pensar ter, mas e no caso das paixões, das novas idéias, o quanto do amor que é ilógico, ou o quanto o destino é cruel para alguns, ou o quanto as idéias podem ser mortas e delas brotarem novas?

Começo eu a temer a morte, e espero eu morrer um dia feliz. E como escreveu Nietzsche : Castigo para alguns é viver para sempre. Que eu não sofra desse mal e viva o todo que eu mereça viver, pois achar que não morreremos é não dar chance para vivermos de verdade. O tempo passa...passa...passa e aquele que um dia falou contigo, poderá ficar só na lembrança. E daí não tem mais dinheiro que compre a volta dele nem preço que limpe aquela saudade no peito e na memória. Por isso, vá viver sem se arrepender depois, ou viva tudo que ainda está em tempo.

A verdade é que não se sabe o que Fernando Pessoa quis dizer, mas umas de suas interpretações podem ser esta de quando escreveu que fácil era navegar e difícil era viver, mas podemos postular sua célebre frase para abrirmos mais à vida nossos rumos, deixar as coisas boas nos transbordarem de feição, não viver tanto para os outros, dedicarmos mais as nossas vontades, não sermos mentirosos, nem sermos levianos com os corações dos outros. Viver mais alegremente, aproveitar cada minutinho ali, sorrir para a vida, mas não perder tempo com quem não tem tempo para nós, até porque ele é ele e você é você... Há! Sorria!

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