Dissonâncias da Vida


Hoje fui conhecer o novo shopping inaugurado em Porto Alegre. Sua inauguração! De início, apavorei-me com a tamanha impaciência daquele povo pra entrar no estacionamento... chingões, apitos... o caos! Pessoas de boa média fortuna... mas o que de fato chamou-me a atenção foi um casal e seu filhinho. Analisei o processo de criação de sistemas de classificação, estudados por Lévi-Strauss. Visivelmente, era a menção de pessoas destoantes do contexto geral.

A sociedade cria maneiras de ver as coisas e ver as suas conterrâneas. Sinceramente, fiquei impressionada com as características físicas e psicológicas daquela jovem mulher grávida portando seu filho mais velho de uns 3 anos e seu companheiro. Eles visivelmente estavam constrangidos naquele ambiente de riqueza e poder de consumo. Mas, ao mesmo tempo em que estavam magnificados com o novo e com o belo encantamento dos objetos, estavam com uma postura mais retraída.

Eu tinha os perdido de vista. No entanto, quando entrei numa loja de eletro-eletrônicos, vi-os novamente. E presenciei uma cena que nos olhos alheios e alienados do mundo, nessas pessoas mesquinhas que se preocupam mais com o seu próprio bolso, roubando ou desvalorizando o trabalho alheio, a falta de estrutura desse grande corpo vivo que constantemente caminha e atropela os que nele vivem, o Estado. Presenciei a pobreza feliz por estar próxima da modernidade.

A mãe generosamente levantou o filho num gesto rápido e mostrou a ele um computador. Talvez coisa que ela jamais tenha tocado antes ou visto de tão pertinho, nos seus segundos de encantamento com a tecnologia, ali tentando salvar seu filho da desonrosa vida que levava. Eu fiquei tão magoada com a sociedade, com a falta de cabimento nessas mesquinharias da vida. Quando que um computador seria algo tão fascinante pra alguém, como nós que vemos neles mais uma necessidade de comunicação, trabalho e estudo. Eles, ali aquela família, sem ter um computador. Talvez o computador venha a ser a geladeira no futuro, tanto quanto já é com a informatização de tudo.

Enfim, eles poderiam estar classificados como pessoas não pertencentes àquele ambiente. Mas não me venham questionar! Não aceito! Todos têm os mesmos direitos, as mesmas prerrogativas. Não tolero ignorância, não tolero mesquinharia! Sei e é sabido que pessoas com roupas velhas, cabelos desgrenhados, aliás alisar os cabelos e gastar com creme pra pentear é muito caro ( quem diria trocar o dinheiro do leite e do pão por sabonete e papel-higiênico? ), mas quem tem o direito de privatizar a vida!? Privatizar tudo? Mas não me cabe neste ensaio discutir isso.

Como posso fazer para mudar isso?

Comentários

Tamirez,
Me alegro em ver que ainda há por aí pessoas como você, que não se calam frente às hipocrisias e contradições destes ditos "tempos modernos". É revoltante viver numa sociedade que pensa que "só tem valor aquilo que pode ser vendido no mercado"!
Sobre a tua pergunta, não sei como tu pode mudar isso, mas sei como tu pode começar, e é fazendo justamente isso que tu faz, inquietando-se e questionando.
Parabéns, continue assim!
Beijos do Planalto!
Ivy Saruzi disse…
Eu não me convenço que só pessoas como nós notem essas coisas e revoltem-se... Eu não aceito só me revoltar e não fazer nada, mas tbm não aceito assistencialismos ou convencionalismos baratos de meia duzia de palestrantes. Sejamos razoáveis, que desejemos mudar o mundo!
Só durmirei tranquila depois que isso acontecer: fato.

bejuu Tamiii

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