OSPA - construção do teatro?


Teatro da Ospa, afinal, por Lauro Schirmer*

Parece que, finalmente, vai começar a construção do há tantos anos sonhado teatro da cinquentenária Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. A Ospa, que é um dos orgulhos da capital gaúcha, fez Erico Verissimo, ao ser perguntado em palestra nos Estados Unidos de onde vinha, responder que vivia numa cidade do sul do Brasil, pequena, mas que tinha uma grande orquestra sinfônica.Isso aconteceu há mais de 40 anos, mas a Ospa continuou sua longa trajetória jamais interrompida, sem um teatro como merecia.


O Theatro São Pedro, um dos pioneiros no Brasil, sempre foi uma joia rara, mas pequeno para acolher uma orquestra sinfônica ou encenar grandes óperas. Em 1937, vim a saber – ao pesquisar a vida do general Flores da Cunha –, que Porto Alegre quase ganhou uma ópera monumental, na Praça do Portão. Projetada pelo arquiteto Fernando Corona, que foi buscar inspiração no imponente Teatro Solis, de Montevidéu. Era o presente que o governador Flores da Cunha daria à cidade no ano seguinte, ao término do seu segundo mandato. Sobreveio então o golpe do Estado Novo de Getúlio Vargas e, entre as muitas perdas que tivemos, com a ditadura que depôs e exilou Flores da Cunha, foi-se o projeto da ópera que, certamente, tornar-se-ia o berço da futura Ospa.


A Ospa, aliás, vem sendo acompanhada de uma estranha maldição. Especialmente no que se refere à luta pela construção de seu teatro. Há mais de 10 anos chegou a se realizar a licitação para a obra que ficaria próxima à Usina do Gasômetro. Foi escolhido o projeto vencedor, mas a obra não pôde começar. Motivo: a prefeitura não deu licença. Ocorre que o teatro fazia parte do projeto do governo Antônio Britto, de revitalização do porto. E quem estava na prefeitura era o PT, que se negou a autorizar a obra proposta por um adversário. De nada adiantaram movimentos de lideranças artísticas e intelectuais da cidade em favor do teatro. Em 1999, o PT assumiu o governo do Estado e a Ospa passou a acreditar que o impasse poderia ser superado. Mais um engano. A marca Britto da revitalização do porto tinha definitivamente selado a morte daquele teatro da Ospa.


Mais recentemente, a luta foi retomada pelo presidente Ivo Nesralla, com um novo projeto que ocuparia parte do estacionamento do Shopping Total. Chegou a haver a cerimônia festiva de lançamento da pedra fundamental, mas a reação de moradores dos arredores, com apoio de ambientalistas, acabou levando à confirmação da maldição que acompanha a Ospa. Uma maldição que chegou ao cúmulo, em 2004, quando o Conselho Estadual de Cultura rejeitou pedido da Ospa para se valer da Lei de Incentivo à Cultura (LIC) num projeto que ia levar aulas de música aos alunos de todas as escolas estaduais e municipais de Porto Alegre. Uma vergonha na história de um conselho que, sabe-se hoje, tem apoiado tantas falcatruas.


Nos três últimos anos, iniciou-se a batalha pela escolha de um novo local, com a participação da prefeitura. Chegou-se, finalmente, à decisão de construir o Teatro da Ospa no Parque Maurício Sirotsky, junto à Câmara Municipal. Com o apoio de todos os vereadores da cidade, foi aprovada a autorização proposta pelo prefeito José Fogaça. E se iniciou a tramitação da proposta, em marcha lenta, na Secretaria de Meio Ambiente, com o ressurgimento de alguns protestos de ambientalistas contra um teatro num parque. Ambientalistas que, pelo visto, ignoram que há dezenas de grandes cidades de países cultos com anfiteatros, teatros e museus valorizando e embelezando parques.


Felizmente, no penúltimo dia de 2008, a Smam promoveu a audiência pública que faltava para encerrar essa longa e morosa caminhada. Espera-se que agora, sem mais delongas, o prefeito José Fogaça, da cidade que dá nome à nossa sinfônica, e a governadora Yeda Crusius, que abriu o Palácio Piratini para os ensaios da Ospa, promovam com a pompa e a circunstância merecidas o início da construção do teatro que vai orgulhar todos os gaúchos.


*Jornalista, vice-presidente da Fundação Pablo Komlós, mantenedora do Teatro da Ospa

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