Pobre Ângelo !

Pobre Ângelo

Uma história triste mas não nova nos dias e na vida. História essa longe dos nossos estômagos , olhos e consciência . No final de julho, li Olhai os Lírios do Campo, Érico Veríssimo, e desde então penso em escrever algo sobre a história e sobre um dos personagens que muito me marcou : Ângelo, pai de família, sofrido pelo trabalho duro, alfaiate e o esforçado para com seus entes queridos, mesmo que humildemente.

Ângelo veio à tona quando o relato triste do meu pai sobre um dos funcionários da empresa de construção civil onde ele trabalha lhe deixou profundamente chocado. Este Ângelo , a única renda da família, homem de 40 anos, sofrido pelo trabalho pesado das obras, pai de 4 filhos, esposa desempregada, filhos esfomeados em casa. Sim, esta triste cena real da vida : FOME!!!!! Ângelo chorava pelos cantos nesta manhã porque seus filhos estavam em casa famintos.

Fome : a dor da vontade . Um homem chorava pelos cantos tristemente e escondendo-se dos colegas porque em casa seus filhos estavam famintos. A triste realidade da pobreza, o fracasso da instituição Estado. Quando meu pai o abordou, procurando saber o que estava acontecendo, ele não comentou nada a respeito dos filhos, apenas foi para o banheiro. Lá ficou por muito tempo.

Outro colega do meu pai comentou que o tinha visto chorando e que ele havia contado o motivo : os filhos estavam em casa sem comida e famintos, a sua casa estava pra ser judicialmente desocupada pela sua família, visto que o terreno era invadido e o antigo dono ajuizou uma ação e a justiça decretou 30 dias para a família do pobre Ângelo desocupá-lo.

Os colegas juntos fizeram uma “vaquinha” arrecadando por volta de 70 reais e foram ao supermercado e compraram carne, leite, pão, bolacha, massa, arroz, feijão, etc. A quantia não era muito alta em compras , mas em vista da situação , seria um alívio para aquela humilde família ali tão sacrificada e tão necessitada de uma ajuda pelas desvirtudes que a vida os colocou.

As compras foram colocadas no carro da firma e junto foi o pobre Ângelo rumo a sua casa onde sua família lhe esperava com o “pão de cada dia”. Agora a cena mais triste que se possa imaginar : quando entraram na casa de dois cômodos e um simples banheiro, as crianças estavam jogadas na cama com fome e o menor tomava água com farinha pra saciar a fome. É triste demais. È o cúmulo! É o absurdo dos absurdos.

Não preciso dizer mais nada...

Os colegas querem o ajudar agora, a empresa dará os materiais e ele precisará encontrar um terreno ou um pedaço de terra pra morar , a sugestão é que encontre com seus familiares. Boa sorte, Ângelo!

Viamão,3 de setembro de 2008.

Comentários

Tamirez,
Infelizmente o triste relato de Ãngelo não é uma história incomum nesse nosso Brasil. Muitas são as pessoas que passam fome, não tem onde morar e vivem à beira do desepero. Quando o novo governador do DF foi empossado, seu mandato parecia um show de demolição. Ele prometeu que ia demolir todas as cas ilegais. Sua ação foi implacável contra os pobres miseráveis que tentavam encontrar um lugar pra morar e tiveram suas casas ainda em construção demolidas. Já com relação aos condomínios de luxo ilegais na orla do Lago Paranoá estão intocados, e o argumento do governador é "temos que negociar". Mais um hipócrita que mostra que a lei protege quem tem.
Como dizia Renato Russo: "Alimento pra cabeça nunca vai matar a fome de ninguém."
Mais um ótimo texto, parabéns!
Beijos do Planalto

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