CONTO NOVO: "Raios e Trovões- Sofhie tinha um namorado..."

Sofhie é dessas de acreditar em todo e qualquer santo de estante. Deus me livre – pensava ela – quando passava por algum despacho em rua de cruz com as galinhas ainda correndo – “Xô, xô – saí pra lá bicho encomendado”! Sofhie tinha um namorado, muito bobinho e mimado pelos pais – diz ela que ele vivia era nas asas de sua mãe, que por menos não deixava de ser uma franga.

Futura sogra dela era o que ela resumia de “bicho enciumado”. Não à toa! Vivia no meio de um bando de homens, por menos devia se sentir que nem cachorro no cio – querendo sempre marcar território! A louça suja era sua urina em poste!

Não demorou muito para a Querida encher a casa de saquinhos pretos no fundo das gavetas. Quando eu descobri, tratei logo de dar fim nisso: toquei meu nome pelo dela!

Alguns meses de rixa, quedas e vitórias, o namoro ia indo – a passo de boi! Não demorava muito pra “Galo Véia” anunciar o novo ringue – e eu já pensando em colocá-la na panela de ferro. Sofhie tinha um namorado! Garoto mimado – sempre de cuecas lavadas e copo d’água trazido pela mãe.

Um dia numa Missa dessas campeiras, dessas que se faz em época de glória da Revolução Farroupilha, a veia se encasquetou atrás do confessionário. Eu não deixei por menos – fui de atrás saber que papos ela carregava na língua pra ter tanto que confessar pro Padre Jorge!

-Pasmem, senhores! Minha futura sogra disse que não era santa coisa nenhuma! Aquilo, a verdade seja dita, era o próprio veneno da Coral. Aliás, se santa fosse não ganharia de penitência 70 Ave-Marias por dia lá na casa do Padre não. “Tô é aguardando o dia pra saber bem dessa história, a véia não me engana não!”

Meu namorado, em época, só andava a pé. Nem cavalo tinha aquele menino, e não compensava o caldo que eu ia fazer da mãe dele depois. E eu ia lá gastar meus sapatinhos de camurça beje e empoeirar meu laço de fita lilás no cabelo, sem contar que eu voltava com minha trança dura de tanto pó do areião da estrada.

Mas o bichinho sabia ler e escrever, isso compensava também, mas poema pra mim que era bom – nada! Só copiava dos outros, que bem sei! Mas acho que ele se divertia mais no campo com as ovelhas das pastagens vizinhas, do que pensar em se juntar  mesmo os panos. Agora era que eu não queria mais esse traste! Já me bastava a duras contas saturar a mala pesada da mãe dele – véia ingrata!


TAMIREZ PAIM, 11 de outubro de 2009 ( Viamão).

Comentários

Anônimo disse…
Adorei a foto da franga! huahuahua
Abração do colega CETEC: Mauricio.

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